Louças sujas

Eu provavelmente não lembro a última vez que eu dormi direito, porque eu fico até muito (MUITO) tarde no computador/internet, fazendo vários nadas e pesquisando um pouquinho sobre coisas que eu gosto e fazendo alguma coisa delas. Os dias são sonolentos, sem dúvida,  mas quase não dá pra sentir, numa jornada que vai da Universidade ao teatro e ás vezes pra um ensaio e outro, me dividindo entre a carreira acadêmica, trabalho e projetos pessoais (e falhado miseravelmente em alguns ~sad~). Eu consigo dar conta de quase tudo, anyway.
Então, numa época em que eu ficaria resignada a casa e filhos - como jovem adulta que sou - a eu de hoje ficaria muito, muito inquieta, querendo ir ali e não voltar mais.

Porém, ainda vivemos numa sociedade o que? Isso, isso.

~Mais um texto sobre feminismo?~

No. Um texto sobre qualidade de vida. Mais precisamente sobre a minha qualidade de vida.

Nessa loucura em que eu vivo, além de preferir, eu estou cercada de pessoas que fazem coisas e realizam o tempo todo, muitas vezes comigo no núcleo disso tudo. A maior parte dos meus amigos estão em constate movimento, e eu amo estar nisso. E também eu começo a me mover, em direção a algo maior e melhor do que a realidade em que eu nasci e cresci, uma realidade em que não cabem realizações audaciosas, em especial quando se fala de Jacksciene, uma menina.
Portanto, quando eu me deparo com situações do tipo "e as louça, já lavou?" eu penso no quanto a minha família e a sociedade em que eu vivo ainda estão engatinhando no quesito "respeito igual" e "reconhecimento". Sim, se eu fosse homem, seria honroso chegar tarde do trabalho. Sim, seria honroso e totalmente normal sair de casa. Seria honroso sair com pessoas, várias pessoas. 
Seria honroso e "incentivável" fazer boa parte das coisas que eu faço.
Mas, aqui, no século 21, ainda não é para mim, por ser mulher e ainda não ter lavado as louças.
Porque sim, se eu quiser algum respeito, tenho que me esforçar o dobro. O mundo é dos homens, né? Então, se eu quiser me destacar como mulher num mundo essencialmente masculino, tenho que fazer o dobro do trabalho deles, para que no final eu seja muito boa em algo "para uma mulher". 
Entende?

As louças estão ali. Talvez eu arranje alguma briga antes de finalmente ir lavar. Mas o que importa? Vai ser a coisa mais “normal” que eu terei feito nos últimos dias.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Padrões

Habilidades

Dor e alívio